segunda-feira, abril 29, 2013

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (II)




Foto batida por ocasião da Feira Medieval de Silves, edição de 2012

( II )


Estabelecendo uma ligação com o episódio anterior, indico-vos a data de 853 (AD) como a da morte de Ibn Habib, companheiro de Al-Ghazal na expedição à terra dos "majus".

Em 859 dá-se uma 2ª invasão dos normandos (majus).

A morte de Al-Ghazal (Iahia ibn al-Hakam al-Bakri al-Jaiani),  ocorreu em 864 (AD).

A esta data de 864 remonta o início da revolta muladi contra o emir de Córdova, Muhammad I, que sucedeu a 'Abd ar-Rahman II.

Mais de século e meio de aculturação dos autóctones desta região do sul da Península Ibérica, contados desde a entrada de Tarik em Gibraltar (1), terá inevitavelmente conduzido a uma islamização mais ou menos generalizada da população.

O poder instalado, embora consentindo livremente as práticas religiosas de cada um, usava de um tratamento diverso, nomeadamente no que se refere à cobrança de impostos, sobre muçulmanos, cristão e judeus.

De entre os muçulmanos, o poder distingue os árabes e berberes daqueles que se vieram a converter ao islamismo. Estes últimos recebem a designação de muladis (2). Já os cristãos residentes em território islâmico são conhecidos como moçárabes.

Senhores locais, de origem autóctone, que se tornaram muladis, começam a revelar algum descontentamento perante a administração islâmica e revoltam-se contra o grande emir, Muhammad I.

Um dos mais importantes de entre esses revoltosos é Ibn Maruan al-Jilliqi (3), com grande poder sobre o vasto território que se estende de Mérida a Ossónoba, duas grandes cidades ao tempo do poder de Roma.

São seus mais diretos aliados, Xirimbaki, senhor de Coimbra, 'Abd al-Malik Ibn Jauad, senhor de Beja e Iahia Ibn Bakr, em Ossónoba.

Desta revolta, bem sucedida, interessa-nos particularmente este senhor de Ossónoba, que então transfere a capital para Santa Maria (Ax-Xantamari), atual Faro.

Refere Garcia Domingues, que foi este Iahia ibn Bakr quem deu a Santa-Maria as suas "engenhosas fortificações" e as suas "portas de ferro", tornando-a inexpugnável.

A Iahia ibn Bakr sucede seu filho Bakr ibn Iahia, que engrandeceu Silves ao instalar uma chancelaria, um conselho de estado e tropas numerosas.

Cito Garcia Domingues: "Costumava passar em Silves a maior parte do tempo, se bem que a sua capital oficial fosse Santa-Maria.
É a partir desta época que Silves principia a surgir como cidade importante no mundo árabe (...)
A Becre Ibne Iáhia deve pois Silves o primeiro impulso no sentido do seu engrandecimento.
Podemos dizer que no tempo de Becre o Algarve tinha duas capitais: uma político-militar, Santa-Maria, outra político-cultural, Silves".

O emir 'Abd ar-Rahman III, que mais tarde se tornará califa, chefe de todos os crentes, acabará por sufocar esta revolta muladi, mas Silves continuará a evidenciar-se graças a esse impulso inicial de Bakr ibn Iahia. 

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António Borges Coelho, Portugal na Espanha Árabe, vol.2, Editorial Caminho.
Garcia Domingues, História Luso-Árabe, Centro de Estudos Luso-Árabes de Silves.
Isabel Cristina Ferreira Fernandes, Quadro Cronológico, em Portugal Islâmico (Os últimos sinais do Mediterrâneo), Museu Nacional de Arqueologia.
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(1) Montanha em árabe é Djebel. Djebel Tarik soa como Gibraltar (a montanha de Tarik).

(2) Muladi significa convertido.

(3) Jilliki quer dizer galego. É a sua identificação como um muladi. É este Maruan que manda edificar o castelo de Marvão. Marvão é o aportuguesamento de  Maruan.

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Se porventura não leu o 1º episódio pode agora fazê-lo, clicando abaixo:

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (I)




sexta-feira, abril 26, 2013

A minha primeira desilusão do 25 de Abril






Junta de Salvação Nacional.
Imagem televisiva, na noite do 25 de Abril de 1974
 

A 7 de abril de 2004, neste mesmo blogue, dizia assim e hoje ainda sinto o mesmo:
 
 

"Esta imagem, que vi no televisor de um café da minha rua na noite de 25 de Abril de 1974, foi a minha primeira desilusão do 25 de Abril.

Passados trinta anos (hoje em dia 39 anos), o poder, agora desfardado, mais ou menos colorido, continua a passar-me a mesma imagem parda, tristonha, distante, de gente que nada tem a ver com a minha (interpretação da) realidade, mas que se alimenta dela."






quinta-feira, abril 25, 2013

25 de Abril





Foto do Centro de Documentação 25 de Abril / Universidade de Coimbra



25 de Abril

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo


Sophia de Mello Breyner Andresen
O Nome das Coisas, 1977

segunda-feira, abril 22, 2013

Património silvense
















O romantismo trouxe consigo um gosto pelo requinte oriental que em Silves se reflete particularmente no edifício dos Paços do Concelho, construção iniciada no final do século XIX.
No átrio de entrada, quando se inicia a subida da escadaria de acesso, se olharmos para cima, seremos surpreendidos por este claustro de gosto revivalista de inspiração andalusina, evocando a herança islâmica, e que termina numa claraboia recentemente destruída quando do tornado do passado mês de novembro.

 É, na minha modesta opinião, um dos mais belos exemplares do património silvense.




quinta-feira, abril 18, 2013

O Mediterrâneo, aqui tão perto




Alguns dos textos que aqui publico, quando fazem referência a temas do Mediterrâneo, costumo passá-los para um grupo temático que frequento - Mediterrâneo: cultura e diversidade.

Desta vez faço-o em sentido contrário. Trago para aqui o que já lá publiquei.




Esta foto bati-a em Xauen, nas montanhas do Rif, Norte de Marrocos, onde à cal comum se junta, creio que manganês, para lhe emprestar este tom azul tão característico da cidade, que se conta ter crescido e ganho notoriedade como refúgio de expulsos de Granada e das purgas de D. Manuel I.

Diz-se que a utilização desta cor foi inicialmente usada por famílias de judeus, mas que foi depois adotada por outros andalusinos ( um vocábulo de Adalberto Alves, para se referir, precisamente, aos habitantes do al-Ândalus ).
 A curiosidade, aqui, é a das mulheres na execução da tarefa, o vestuário e os utensílios utilizados.


segunda-feira, abril 15, 2013

Silves é um barco atracado ao cais






Silves possui um riquíssimo património histórico e monumental, mas não tem indústria, a comercialização da laranja já deu o que tinha a dar, o comércio como que sobrevive, os serviços são os da administração pública e pouco mais.

A vida social quase não existe.  É um marasmo.

É Portimão que lhe fornece os turistas que aqui chegam de autocarro. Sobem ao castelo e descem de novo para os autocarros, que os levarão a outros sítios e os devolvem de novo a Portimão.

Aqui, o turismo não chegou, nem se vislumbra uma estratégia para que tal aconteça.



Silves é como o barco na fotografia: bonitinho, atracado à muralha, registado em Portimão e à espera da maré.


quinta-feira, abril 11, 2013

Fotografia à beira-mar







à beira-mar.
e é da interrupção desse desejo
que nasce este desejo;
é da interrupção desta capacidade
que se realiza esta capacidade;
é da organização do som
que se mede o poder do embate;
é do soluço desta peixidez
que fazemos por fim nosso
o nosso mar;
sempre uma coisa na dependência
dessa mesma coisa ou algo
à beira-mar.
sempre uma nova pessoa
que nasce dela mesma.

Sylvia Beirute
Uma prática para desconserto
4Águas Editora
Junho 2011
 


segunda-feira, abril 08, 2013

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus




Foto batida por ocasião da Feira Medieval de Silves, edição de 2012


Sob este título genérico - Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus - conto vir a divulgar nesta página, acontecimentos, episódios, figuras notáveis, poemas e outros materiais que se refiram a Silves durante o fértil período da presença islâmica no nosso território.

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( I )


A primeira referência escrita sobre Silves data de um episódio ocorrido no séc. IX, mais precisamente em 844 (AD).

Era emir em Córdova 'Abd ar-Rahman II e califa em Bagdad Harun ar-Raxid, o das "Mil e uma Noites".

Vindos do norte, os normandos (majus, ao tempo, hoje mais conhecidos como vikings) atacam Lisboa, onde uma recente guarnição militar, enviada pelo emirato, oferece adequada resistência durante 13 dias. Dirigem-se depois a Cádis e Sevilha, onde desembarcaram e as tomaram à força.

Foram então cercar Jerez e aí sofreram um ataque pela força enviada por 'Abd ar-Rahman, que os venceu e onde perdeu a vida o chefe da frota nórdica.

'Abd ar-Rahman recebeu o embaixador dos normandos que lhe tinha vindo solicitar a paz e era portador de um rico presente.

É na sequência deste encontro que o emir de Córdova decide enviar uma embaixada ao rei dos piratas normandos.

Al-Ghazal, um dos maiores poetas e diplomatas do al-Ândalus, célebre também pela sua formosura, graça e inteligência, e com provas dadas como embaixador junto da corte cristã de Constantinopla, foi o escolhido para, na companhia de Ibn Habib, historiador, jurista e reputado linguista, ser portador de uma resposta à petição de paz do rei dos normandos e de um presente que correspondia ao que o emir tinha recebido.

Estes dois enviados do emir deslocaram-se então a Silves, onde se encontrava aparelhada uma embarcação com tudo o que era necessário para a viagem.

É este singelo acontecimento a primeira referência escrita onde surge o nome da nossa cidade - SILVES (1).

Claro que Silves existiria bem antes desta data e a existência de um porto ou até de um estaleiro de construção naval, necessários ao aparelhamento de uma embarcação capaz de enfrentar o Atlântico e as remotas paragens do Norte, não poderia suceder senão num local com gente experimentada e a merecer a opção do emir.

As crónicas falam detalhadamente da viagem de al-Ghazal e do seu sucesso na corte do rei nórdico, nomeadamente junto da rainha, mas esses acontecimentos já não têm propriamente em conta a cidade de Silves, que é o motivo destas notas sumárias que aqui me proponho ir fazendo.

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António Borges Coelho, Portugal na Espanha Árabe, vol.2, Editorial Caminho.
Garcia Domingues, História Luso-Árabe, Centro de Estudos Luso-Árabes de Silves.
Christophe Picard, A islamização do Gharb al-Ândalus, em Portugal Islâmico (Os últimos sinais do Mediterrâneo), Museu Nacional de Arqueologia.

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(1) Silves é o topónimo contemporâneo da cidade a que os árabes chamaram XILB.
 
 


quinta-feira, abril 04, 2013

A propósito da nota de 1º de Abril

(Meio às claras, meio às escuras)






É evidente que o "post" anterior foi uma daquelas mentiras de 1º de Abril, assim meio às claras, meio às escuras, como é da tradição.







Para os que não são de Silves e não estão a par do que se passa, deixai-me esclarecer que Isabel Soares só não cumpriu todos os mandatos possíveis porque acabou por não levar o seu último mandato até ao fim, em troca pela Administração das Águas do Algarve, SA.

É certo que a senhora também não sabia, à data, desta nova possibilidade de se poder continuar a candidatar após um terceiro mandato, desde que a autarquia diferente, como se ouve dizer por aí. 

Mas não deve estar arrependida; pelo menos livra-se dessa de ter que voltar ao escrutínio público que, a bem da verdade, sempre lhe foi favorável, e não ter que prestar contas a quem, hierarquicamente, lhe é inferior, apesar da simpatia e proximidade que sempre manifestou por toda a gente.

Resta-lhe agora assinar por baixo os pareceres técnicos e exercer o poder da sua simpatia pessoal.

Outros proventos não vêm ao caso.

segunda-feira, abril 01, 2013

Isabel Soares de regresso ao seu posto






Foto de "Sul Informação",
quando da tomada de posse de Isabel Soares como
Administradora das Águas do Algarve, SA.


Preocupada com:
 
          - uma oposição que já não é só a dos partidos tradicionais, a que estava habituada, e que agora surge sob a sigla S.E.R.P.A.;
 
          - as dívidas acumuladas pelo anterior mandato, antes da assunção deste novo Presidente da Câmara;
 
          - a morosidade e derrapagem orçamental das obras, que já deveriam estar terminadas há muito, como nunca antes se tinha assistido;
 
 
Isabel Soares, num golpe de asa, pouco ao seu estilo, surpreende agora tudo e todos, não levando até ao fim este seu mandato nas Águas do Algarve, para voltar a assumir o seu mandato na Câmara Municipal de Silves.


          P.S.: Logo que haja oportunidade de esclarecer melhor esta situação, voltarei ao assunto.