segunda-feira, abril 08, 2013

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus




Foto batida por ocasião da Feira Medieval de Silves, edição de 2012


Sob este título genérico - Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus - conto vir a divulgar nesta página, acontecimentos, episódios, figuras notáveis, poemas e outros materiais que se refiram a Silves durante o fértil período da presença islâmica no nosso território.

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( I )


A primeira referência escrita sobre Silves data de um episódio ocorrido no séc. IX, mais precisamente em 844 (AD).

Era emir em Córdova 'Abd ar-Rahman II e califa em Bagdad Harun ar-Raxid, o das "Mil e uma Noites".

Vindos do norte, os normandos (majus, ao tempo, hoje mais conhecidos como vikings) atacam Lisboa, onde uma recente guarnição militar, enviada pelo emirato, oferece adequada resistência durante 13 dias. Dirigem-se depois a Cádis e Sevilha, onde desembarcaram e as tomaram à força.

Foram então cercar Jerez e aí sofreram um ataque pela força enviada por 'Abd ar-Rahman, que os venceu e onde perdeu a vida o chefe da frota nórdica.

'Abd ar-Rahman recebeu o embaixador dos normandos que lhe tinha vindo solicitar a paz e era portador de um rico presente.

É na sequência deste encontro que o emir de Córdova decide enviar uma embaixada ao rei dos piratas normandos.

Al-Ghazal, um dos maiores poetas e diplomatas do al-Ândalus, célebre também pela sua formosura, graça e inteligência, e com provas dadas como embaixador junto da corte cristã de Constantinopla, foi o escolhido para, na companhia de Ibn Habib, historiador, jurista e reputado linguista, ser portador de uma resposta à petição de paz do rei dos normandos e de um presente que correspondia ao que o emir tinha recebido.

Estes dois enviados do emir deslocaram-se então a Silves, onde se encontrava aparelhada uma embarcação com tudo o que era necessário para a viagem.

É este singelo acontecimento a primeira referência escrita onde surge o nome da nossa cidade - SILVES (1).

Claro que Silves existiria bem antes desta data e a existência de um porto ou até de um estaleiro de construção naval, necessários ao aparelhamento de uma embarcação capaz de enfrentar o Atlântico e as remotas paragens do Norte, não poderia suceder senão num local com gente experimentada e a merecer a opção do emir.

As crónicas falam detalhadamente da viagem de al-Ghazal e do seu sucesso na corte do rei nórdico, nomeadamente junto da rainha, mas esses acontecimentos já não têm propriamente em conta a cidade de Silves, que é o motivo destas notas sumárias que aqui me proponho ir fazendo.

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António Borges Coelho, Portugal na Espanha Árabe, vol.2, Editorial Caminho.
Garcia Domingues, História Luso-Árabe, Centro de Estudos Luso-Árabes de Silves.
Christophe Picard, A islamização do Gharb al-Ândalus, em Portugal Islâmico (Os últimos sinais do Mediterrâneo), Museu Nacional de Arqueologia.

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(1) Silves é o topónimo contemporâneo da cidade a que os árabes chamaram XILB.
 
 


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