segunda-feira, setembro 30, 2013

Alcantarilha - memórias de infância (IX)






A Igreja Matriz de Alcantarilha remonta ao séc. XVI.

Irei usar, de novo, os serviços do Ministério da Cultura para a descrição deste monumento. São serviços habilitados para uma rigorosa e esclarecida informação. Farão certamente melhor do que eu seria capaz.

"Templo religioso construído no séc. XVI, com uma arquitetura dominada pelo estilo manuelino e barroco. O seu interior, de planta longitudinal composta por três naves de quatro tramos. A capela-mor, apresenta-se com um arco triunfal de volta perfeita em torcido e com dois níveis cobertos por uma abóbada artesoada do estilo manuelino. No altar-mor encontramos um retábulo rococó com destaque para a imagem da padroeira do séc. XVIII. De destacar o batistério, decorado com azulejos, e a sumptuosa pia batismal. Das várias alterações que o templo sofreu após o terramoto de 1755, salienta-se a construção da torre da igreja e a construção do coro. Anexa à Igreja Matriz encontra-se a Capela dos Ossos, do séc. XVI."

Este é um "link" para  o texto acima (com imagens).





 
Duas imagens batidas  a partir da rua 25 de Abril, pelas traseiras do edifício.


A torre, pós-terramoto de 1755. 
 











A Capela-Mor.



















                                                                 A Pia Batismal.












A Capela-Mor era o lugar de todas as manhãs de domingo, secundando, em coro com o Zezinho Sacristão, o responsório da missa em latim, com os frequentes améns.

Mas o momento mais apetecível seguia-se à oração do Padre Nosso (Pater Noster). Um pouco antes, o sacristão teria subido à torre para tocar os sinos na hora da consagração e teria que voltar, sob alguma pressão para cumprir com o tempo de que dispunha, sem sobressaltos, para responder ao final da oração.
 
Eu desejava sempre que ele se atrasasse para poder brilhar com o meu latim em "sed libera nos a malo". A expressão era longa e complicada e poucos a saberiam. Eu ainda a sei hoje de cor.
 
Mas não havia coisa mais entusiasmante, no que se refere ao responsório, do que o que acontecia uma só vez por ano, na missa de Sábado de Aleluia.
 
O Sr. Prior Montes mandava distribuir a cada um dos pequenos acólitos uma campainha que, no momento do Glória, imediatamente terminado o seu canto gregoriano com  "Gloria in excelsis Deo", nós fazíamos retinir com quantas forças tínhamos, até que o Sr. Prior, por vezes já com cara de poucos amigos pela delonga da nossa intervenção, repetisse o sinal de terminar com algum nervosismo.
 
Mas o melhor da Igreja Matriz era o que estava por detrás da capela-mor, a que acedíamos a partir da sacristia, particularmente por altura da Semana Santa.
 
Poder chegar à janelinha que fica por cima da imagem da Senhora da Conceição, o que era proibido, no centro do altar-mor, sobre o Sacrário, abri-la e poder ver para o lado de lá, para o sítio onde está o público, em sentido contrário ao habitual, como se se tratasse de uma revelação misteriosa, como se prevaricássemos por estar a espreitar nas costas de Deus, era o cúmulo da excitação
 
Nos largos corredores que davam a volta ao edifício, encostados às paredes, estavam abertos os baús, revelando as togas roxas, as coroas de espinhos, as lanças dos soldados romanos, as esponjas (que supostamente os legionários embebiam em vinagre e davam ao Senhor como que para apaziguar a sede, mas refinando o amargor), as escadas para fazer descer o corpo após a morte e toda uma série de outros acessórios que iríamos usar na Procissão do Enterro do Senhor, já de noite, com tochas acesas, o matraquear lúgubre das matracas, por vezes a toada pungente da música fúnebre da Filarmónica, e o silêncio... apesar da multidão em redor.
 
 
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Termino, com esta nona edição, este percurso pelas minhas memórias de infância em Alcantarilha.

Com estas memórias cobri todas as segundas e quintas-feiras do mês de Setembro.

Resta-me agradecer a todos quantos visitaram este blogue, que atingiu no seu primeiro episódio mais de duzentas visitas (quando escrevemos é para que alguém nos leia e estas minhas memórias foram lidas e sei, por testemunhos, que foram lidas e relidas).

Um abraço de saudade a Alcantarilha.


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               Alcantarilha - memórias de infância



               Alcantarilha - memórias de infância (IV)

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