segunda-feira, maio 20, 2013

Padre António Vieira em carta a D. João IV




A estatística do "blogger" vem revelando uma procura inusitada de um texto do Padre António Vieira, aqui publicado em Fevereiro de 2007.

Presumo que este texto reflita algo que na nossa atual situação tenha merecido uma atenção particular.
Aqui o reproduzo, visando chegar a mais leitores:









Há homens que veem para além do seu tempo.




Trago-vos hoje um texto de Padre António Vieira, mais exatamente o excerto de uma carta que, do Maranhão, no Brasil, dirigiu ao rei D. João IV, com data de 20 de Maio de 1653:








  • [...] Os índios que moram em suas aldeias com títulos de livres são muito mais cativos que os que moram nas casas particulares dos portugueses, só com uma diferença, que cada três anos têm um novo senhor, que é o governador ou capitão-mor que vem a estas partes, o qual se serve deles como de seus e os trata como alheios; em que vêm a estar de muito pior condição que os escravos, pois ordinariamente se ocupam em lavouras de tabaco, que é o mais cruel trabalho de quantos há no Brasil. Mandam-nos servir violentamente a pessoas e em serviços a que não vão senão forçados, e morrem lá de puro sentimento; tiram as mulheres casadas das aldeias, e põem-nas a servir em casas particulares, com grandes desserviços de Deus e queixas de seus maridos, que depois de semelhantes jornadas muitas vezes se apartam delas; não lhes dão tempo para lavrarem e fazerem suas roças, com que eles, suas mulheres e seus filhos padecem e perecem; enfim, em tudo são tratados como escravos, não tendo a liberdade mais que no nome, pondo-lhes nas aldeias por capitães alguns mamelucos ou homens de semelhante condição, que são os executores destas injustiças, com que os tristes índios estão hoje quase acabados e consumidos; [...]
    As causas deste dano bem se vê que não são outras mais que a cobiça dos que governam, muitos dos quais costumam dizer que V.M. os manda cá para que se venham remediar e pagar de seus serviços, e que eles não têm outro meio de o fazer senão este. [...]


História e Antologia da Literatura Portuguesa (Séc. XVII), nº 36
Fundação Calouste Gulbenkian
Serviço de Educação e Bolsas

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