sexta-feira, março 15, 2013

Os muros brancos das casas do Mediterrâneo





Estes muros caiados de branco passam-me quase sempre uma sensação de pertença, como quando, de viagem, os reconheço nestas paragens do sul, ou quando regresso à minha terra vindo de terras do norte.

Até que chegue de novo a hora de a caiar, a parede, à sorte dos elementos, ganha esta crosta como a da pele enrugada das mãos dos mais velhos.

E quando caiada, bem branca, os nossos olhos quase não suportam a luz que dela emana.

E por isso a  cal é branca; para afastar esse calor esbraseado do meio-dia de todas estas casas tão semelhantes entre si à volta desse mar fechado.

É que à volta desse mar e da sua proximidade somos todos vizinhos de passado comum e herdeiros de saberes partilhados no uso dos materiais, das técnicas, dos processos, como se tivéssemos sido aprendizes dos mesmos alarifes.

E as estreitas aberturas, quase postigos a proteger do sol e do olhar dos outros, e não janelas, abertas ao exterior? Aqui a casa é da família; a rua é de todos.

Neste mundo mediterrânico, apesar da imensa diversidade de culturas e religiões, que se batem e guerreiam pela verdade que reivindicam para cada uma, apesar das diferenças culturais e civilizacionais, há um substrato que permite reconhecermo-nos uns aos outros, desde a margem que vai do sul de Portugal até o Líbano e do Líbano a Marrocos.
Há entre nós algo de profundo e comum que não é só geografia e cor de pele, e que provém, certamente, de um saber milenar que aprendemos nas lides da terra e do mar.



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