quinta-feira, março 28, 2013

Penumbra





Foto de Manuel A. Domingos

 
 
Há livros na estante
que nunca li
Esperam a sua vez
a ganhar pó
 
Olho para ti e não sei
que novidade encontro
sempre no teu olhar
Mas ela existe
 
pronta a fazer  o meu dia
ganhar sentido
que não tem de ser novo
só sentido
 
Tudo o resto é apenas
o sol a pique no terraço
uma tarde quente
 
Manuel A. Domingos
Penumbra
Edição de autor
Setembro 2012
 
 

terça-feira, março 26, 2013

Sombras do passado






Esta imagem fala de meras sombras do passado; ruínas de uma sociedade que findou, mas que ainda perdura na memória dos mais velhos, que hoje constituem a maioria da população.

Nessa altura tudo girava ao sabor do tempo, das estações do ano, das grandes festividades ou acontecimentos.

Este lagar, na fotografia, preparava-se para acolher o Outono e era a grande azáfama da apanha da azeitona.

Chiavam os carros de besta com o peso das azeitonas que, esmagadas pela trepidação, deixavam correr um suco que se misturava com a água da chuva e enchia o ar com  aquele cheiro acre tão característico do Outono, a coincidir com a abertura do ano escolar e pouco depois com a Feira anual, a de Todos-os-Santos.

Começava o frio e era junto às fornalhas dos lagares que nos reuníamos a esfregar as mãos, aguardando o pão torrado, com azeite novo e sumo de laranja, que um copo de vinho ajudaria a descer melhor até ao estômago. Era também numa brasa dessas da fornalha, que se acendiam os primeiros  cigarros da adolescência.

Ali se fazia o azeite e nos fazíamos homenzinhos.

Há um desajuste enorme entre a sociedade dos serviços e das novas tecnologias em que hoje vivemos e o entendimento que a generalidade dessa geração dos mais velhos tem deste novo mundo.

O hiato geracional deixou-os desprovidos dos meios para o entendimento da mudança e agora, ao ouvi-los, é como se se negassem a falar do presente, pois constantemente estabelecem comparações com o passado, com critérios que são os seus, que consideravam perenes, e que envelheceram com eles.

segunda-feira, março 25, 2013

Torquato da Luz faleceu




Morreu ontem o meu amigo de infância, Torquato da Luz (tem link para a Wikipédia), que sempre me honrava com a sua visita, em Silves, de cada vez que descia  ao Algarve.

À família, as minhas condolências.

Para a minha última saudação, roubei do seu próprio blogue - Ofício Diário (tem link para a Wikipédia), a foto e o poema que a acompanhava.


                                                                                                    Uma rua no Castelo


Nem balanço nem contas. Nada disso.
Importa é recusar o compromisso
do permanente deve & haver.
Importa é ter insubmisso
 a todo o tempo o coração.
Importa é não ceder
e saber dizer não
a quem, por qualquer razão
que supõe ter,
não pretende senão
fazer-nos obedecer.
Importa é que a rebeldia
nos seja pão de cada dia.

Torquato da Luz
Ofício Diário
2 de Fevereiro de 2013


quinta-feira, março 21, 2013

Tédio






se te disser que não leio livros e
se te disser que não escrevo versos e
se te disser que não ouso a vírgula e o ponto e
se te disser que não tenho vontade de fazer nada e
se te disser que tudo o que me rodeia me enfastia e enche
de vómitos
 
 
acreditas?
 
 
no passeio em frente há um homem com um pássaro pousado
sobre a língua que
se anula em igual sensação de tédio
 
 
coirmãos
 
 
descemos de mão dada a rua e -
dizendo adeus aos iconoclastas envoltos em xailes franjados -
 
 
 
deixamo.nos marinar num enjoo cozido à portuguesa
 
 
 
Gabriela Rocha Martins
As luvas de um aprendiz (in)conformista
CORPOS editora
Outubro 2012


terça-feira, março 19, 2013

O registo amargo de um jovem poeta algarvio







    porque a televisão poupa o pensar
    e o estado zela pela higiene dos dias
    garante o teu futuro num curso superior
    e vê se te endividas antes dos 30
    com tudo o que precisas para a tua felicidade
    cumpre as eternas 8 horas do teu dia
    afoga as mágoas na cerveja com os teus amigos
    cospe cospe rende-te encona-te e trabalha
    acima de tudo está o interesse do país
    o respeito e a bênção da família
    a liberdade que nos trouxe a democracia
    quando em 74 aquela coisa dos cravos
    liberalizou o acesso ao ar condicionado

João Bentes
ODES
4Águas editora
Dezembro 2012

sexta-feira, março 15, 2013

Os muros brancos das casas do Mediterrâneo





Estes muros caiados de branco passam-me quase sempre uma sensação de pertença, como quando, de viagem, os reconheço nestas paragens do sul, ou quando regresso à minha terra vindo de terras do norte.

Até que chegue de novo a hora de a caiar, a parede, à sorte dos elementos, ganha esta crosta como a da pele enrugada das mãos dos mais velhos.

E quando caiada, bem branca, os nossos olhos quase não suportam a luz que dela emana.

E por isso a  cal é branca; para afastar esse calor esbraseado do meio-dia de todas estas casas tão semelhantes entre si à volta desse mar fechado.

É que à volta desse mar e da sua proximidade somos todos vizinhos de passado comum e herdeiros de saberes partilhados no uso dos materiais, das técnicas, dos processos, como se tivéssemos sido aprendizes dos mesmos alarifes.

E as estreitas aberturas, quase postigos a proteger do sol e do olhar dos outros, e não janelas, abertas ao exterior? Aqui a casa é da família; a rua é de todos.

Neste mundo mediterrânico, apesar da imensa diversidade de culturas e religiões, que se batem e guerreiam pela verdade que reivindicam para cada uma, apesar das diferenças culturais e civilizacionais, há um substrato que permite reconhecermo-nos uns aos outros, desde a margem que vai do sul de Portugal até o Líbano e do Líbano a Marrocos.
Há entre nós algo de profundo e comum que não é só geografia e cor de pele, e que provém, certamente, de um saber milenar que aprendemos nas lides da terra e do mar.



quarta-feira, março 13, 2013

FARMÁCIAS + LONGE






De acordo com Sul Informação, a Câmara Municipal de Silves irá promover, em parceria com técnicos de farmácias locais, várias ações de sensibilização para os cuidados diários específicos da população sénior.

Essas ações receberam o título genérico de

FARMÁCIAS + PERTO
 
Louvo a iniciativa, mas estranho o epíteto, quando ocorre desde há algum tempo para cá a circunstância que vos trago em apreço, que eu apelidaria de
 
FARMÁCIAS + LONGE
 
A Farmácia de serviço, agora dita "em disponibilidade", passou a ser só uma de entre as 12 existentes no concelho de Silves. Quero significar que, se anteriormente, Silves (cidade) dispunha sempre de uma farmácia de serviço, agora tal não acontece, porque a farmácia em disponibilidade é só uma para todo o concelho.
 
Isto implica que o segundo concelho algarvio com maior área tenha, em cada dia, uma só farmácia em disponibilidade, que pode ser em Alcantarilha, em Algoz, em Armação de Pêra, em Pêra, em São Bartolomeu de Messines, em São Marcos da Serra ou em Tunes, obrigando qualquer cidadão, em situações de urgência, a ter que percorrer dezenas de quilómetros por um medicamento, se não viver na localidade da farmácia que está em regime de disponibilidade.
 
Acresce ainda, que a informação disponibilizada só refere as farmácias do concelho, como se vivêssemos num concelho fechado.
 
Lagoa fica bem mais perto que qualquer uma das localidades com farmácia no concelho de Silves e tem farmácias em disponibilidade, todos os dias, em Lagoa, Carvoeiro, Ferragudo e Estômbar, em simultâneo.
 
O curioso é que isto, no Algarve, só se passa assim no concelho de Silves, havendo até alguns concelhos que, além de farmácias em disponibilidade, têm ainda farmácias em serviço permanente.
 
Algo de especial tem este nosso concelho, não acham?
 
Espero que alguém nos possa ouvir e tente resolver esta situação, que mais não seja a Câmara Municipal, que é eleita para supostamente servir os cidadãos que representa
e que, além disso, tem relacionamento de parceria com FARMÁCIAS + PERTO.
 
 
 
 

segunda-feira, março 11, 2013

Passado o Dia da Mulher





Esta foto foi batida, com a intenção de obter esta textura, a partir de uma das paredes do Palácio da Justiça, em Silves.
Alterei o título que a câmara fotográfica lhe atribuiu para "Homem-Mulher".

Tentem lê-la e interpretá-la como se de um gráfico se tratasse.
Já foi bem maior esta área de tons amarelados, comparativamente à vermelha; diz-se que tende a diminuir em função da outra, como sinal interpretativo da representatividade dos dois sexos no que se refere ao seu poder de intervenção na sociedade.

Creio, no entanto, que há um fator de desaceleração ao nível das relações sociais, bem difícil de mudar, de parte a parte, e que se usa designar por MENTALIDADE.
Que me dizeis?

sexta-feira, março 08, 2013

Regresso, ao fim de 4 meses


Uma leitora desta página alertou-me para a minha atitude pouco respeitosa para quem me lê, ao ter subitamente parado de publicar, sem uma explicação ou justificação de qualquer ordem.

Quero apresentar a todos os leitores habituais o meu mais sincero pedido de desculpas.

Alterações na minha vida roubaram-me um espaço de tempo substancial para a reflexão, a leitura e a escrita.

Fui-me dando por satisfeito com pequenas intervenções no "Facebook", espaço mais superficial e menos exigente, onde os que o frequentam buscam uma informação breve e onde me dediquei um pouco mais em torno da fotografia, nomeadamente de recantos e paisagens da minha terra, tentando satisfazer a saudade dos que estão longe e a curiosidade dos que estão por perto.

Queiram perdoar-me!


Este cãozinho, o meu Doggy, é um dos responsáveis por esta minha ausência, pois solicita-me algumas horas de atenção, com passeios e exercício físico, bem como com o tempo necessário à aquisição e confeção dos produtos que satisfarão as suas necessidades alimentares.

Escusado será dizer que o faço com toda a dedicação.



Irei então regressar, provavelmente com menos frequência, mas com intenção de manter uma certa regularidade.

Até breve!