segunda-feira, maio 21, 2012

Um poema a cada segunda-feira (LXXIX)



O Público divulgou, há alguns anos, uma série de antologias de poesia que encomendara a certas personalidades da vida portuguesa não diretamente relacionadas com a literatura.

É desse manancial que esta rubrica se irá sustentar por algum tempo, confinando-se as minhas escolhas às opções dessa personalidades e a poetas que viveram, ou ainda vivem, sob o bafo civilizacional do séc. XXI.

A primeira vaga proveio da safra de Mário Soares, a que se seguiram Miguel Veiga, Diogo Freitas do Amaral e Urbano Tavares Rodrigues.
Irei terminar com Marcelo Rebelo de Sousa.


  • DO OUTRO LADO DE MIM

Não é a vida que se não viveu o que desgosta;
Não são as horas perdidas à espera de outras o que faz falta;
Nem os sonhos que a realidade não compensou
O que pesa na balança da existência.
Quando o mar é manso e igual
Nem se sente o alvoroço da chegada.
O porto está além mas nada significa além do desembarque.
A chegada é coisa vazia com sabor a frustrada despedida.
O que interessa na vida é a bagagem dela nos nossos sonhos de futuro.
Será o que para além a aventura queimará, alimentada
Por pedaços de nós que o vento arranca.


O que interessa não é a paz de ter chegado.
O que é grande e belo, é isto de chegar
E ter logo e sempre a coragem de partir.

Marcos Leal
Os poemas da minha vida
Marcelo Rebelo de Sousa
Público, Lisboa 2005

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