segunda-feira, setembro 12, 2011

Um poema a cada segunda-feira (XLIII)



O Público divulgou, há alguns anos, uma série de antologias de poesia que encomendara a certas personalidades da vida portuguesa não diretamente relacionadas com a literatura.

É desse manancial que esta rubrica se irá sustentar por algum tempo, confinando-se as minhas escolhas às opções dessa personalidades e a poetas que viveram, ou ainda vivem, sob o bafo civilizacional do séc. XXI.

A primeira vaga provém da safra de Mário Soares.


  • Camões e a Tença
Irás ao Paço. Irás pedir que a tença
Seja paga na data combinada
Este país te mata lentamente
País que tu chamaste e não responde
País que tu nomeias e não nasce.


Em tua perdição se conjugaram
Calúnias desamor inveja ardente
E sempre os inimigos sobejaram
A quem ousou seu ser inteiramente


E aqueles que invocaste não te viram
Porque estavam curvados e dobrados
Pela paciência cuja mão de cinza
Tinha apagado os olhos no seu rosto


Irás ao Paço irás pacientemente
Pois não te pedem canto mas paciência


Este país te mata lentamente


Sophia de Mello Breyner Andresen
Os poemas da minha vida
Mário Soares
Público, Lisboa 2005

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