segunda-feira, setembro 26, 2011

Um poema a cada segunda-feira (XLV)



O Público divulgou, há alguns anos, uma série de antologias de poesia que encomendara a certas personalidades da vida portuguesa não diretamente relacionadas com a literatura.

É desse manancial que esta rubrica se irá sustentar por algum tempo, confinando-se as minhas escolhas às opções dessa personalidades e a poetas que viveram, ou ainda vivem, sob o bafo civilizacional do séc. XXI.

A primeira vaga provém da safra de Mário Soares.


  • CORPO DE AROMA
Se foste corola ou barco,
mas quando?
minha irmã,
minha leve amante, minha árvore,
que o mundo levantava
na inocência absoluta
do instante.
Alta estavas no amplo e recolhida
como uma lâmpada,
alta estavas na varanda branca.
Se acaso ainda podes ser aroma
dos meus olhos,
corpo no corpo,
retiro e substância,
linha alta
da delícia,
nada te pedirei na minha ânsia
de puro espaço,
de azul imediato,
de luz para o olvido e o deserto.

António Ramos Rosa
Os poemas da minha vida
Mário Soares
Público, Lisboa 2005

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segunda-feira, setembro 19, 2011

Um poema a cada segunda-feira (XLIV)



O Público divulgou, há alguns anos, uma série de antologias de poesia que encomendara a certas personalidades da vida portuguesa não diretamente relacionadas com a literatura.

É desse manancial que esta rubrica se irá sustentar por algum tempo, confinando-se as minhas escolhas às opções dessa personalidades e a poetas que viveram, ou ainda vivem, sob o bafo civilizacional do séc. XXI.

A primeira vaga provém da safra de Mário Soares.


  • Em Lisboa com Cesário Verde
Nesta cidade, onde agora me sinto
mais estrangeiro do que um gato persa;
nesta Lisboa, onde mansos e lisos
os dias passam a ver as gaivotas,
e a cor dos jacarandás floridos
se mistura à do Tejo, em flor também,
só o Cesário vem ao meu encontro,
me faz companhia, quando de rua
em rua procuro um rumor distante
de passos ou aves, nem eu já sei bem.
Só ele ajusta à luz feliz dos seus
versos aos olhos ardidos que são
os meus agora; só ele traz a sombra
de um verão muito antigo, com corvetas
lentas ainda no rio, e a música,
sumo do sol a escorrer da boca,
ó minha infância, meu jardim fechado,
ó meu poeta, talvez fosse contigo
que aprendi a pesar sílaba a sílaba
cada palavra, essas que tu levaste
quase sempre, como poucos mais,

à suprema perfeição da língua.

Eugénio de Andrade
Os poemas da minha vida
Mário Soares
Público, Lisboa 2005

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quinta-feira, setembro 15, 2011

BRUTAL



A 17 de Setembro, às 17h00, estarei na Biblioteca Municipal de Silves para apresentação do romance BRUTAL, da autoria de Fernando Esteves Pinto, escritor, editor, poeta, romancista.

Nasceu em Cascais em 1961. Colaborou no DN Jovem e no Jornal de Letras. Em 1960 recebeu o Prémio Inasset Revelação de Poesia do Centro Nacional de Cultura. Está publicado em Espanha, México e Marrocos e representado em várias antologias nacionais e internacionais.

Em 1968 obteve uma bolsa de criação literária pelo Ministério da Cultura / Instituto Português do Livro e das Bibliotecas. Foi co-fundador e coordenador do "Sulscrito" - Círculo Literário do Algarve - e também do projecto literário Hispano-Luso "Palavra Ibérica".

Da sua obra destacam-se: Na Escrita e no Rosto (poesia); Siete Planos Coreográficos (poesia, edição bilingue português/castelhano); Ensaio entre Portas (poesia); Conversas Terminais (romance): Sexo entre Mentiras (publicado também em Espanha); Privado (novela, edição bilingue castelhano / português); Área Afectada (poesia).








A apresentação de BRUTAL está a cargo de Tiago Nené, poeta.











A mim compete-me a leitura de passagens significativas do romance.

Contamos convosco.

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segunda-feira, setembro 12, 2011

Um poema a cada segunda-feira (XLIII)



O Público divulgou, há alguns anos, uma série de antologias de poesia que encomendara a certas personalidades da vida portuguesa não diretamente relacionadas com a literatura.

É desse manancial que esta rubrica se irá sustentar por algum tempo, confinando-se as minhas escolhas às opções dessa personalidades e a poetas que viveram, ou ainda vivem, sob o bafo civilizacional do séc. XXI.

A primeira vaga provém da safra de Mário Soares.


  • Camões e a Tença
Irás ao Paço. Irás pedir que a tença
Seja paga na data combinada
Este país te mata lentamente
País que tu chamaste e não responde
País que tu nomeias e não nasce.


Em tua perdição se conjugaram
Calúnias desamor inveja ardente
E sempre os inimigos sobejaram
A quem ousou seu ser inteiramente


E aqueles que invocaste não te viram
Porque estavam curvados e dobrados
Pela paciência cuja mão de cinza
Tinha apagado os olhos no seu rosto


Irás ao Paço irás pacientemente
Pois não te pedem canto mas paciência


Este país te mata lentamente


Sophia de Mello Breyner Andresen
Os poemas da minha vida
Mário Soares
Público, Lisboa 2005

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quinta-feira, setembro 08, 2011

Conversas Informais



A intenção deste post é a de divulgar esta iniciativa das Conversas Informais, no Museu da Marinha, com particular destaque para  esta comunicação da Doutora Eva Maria von Kemnitz, já no próximo dia 10 de Setembro.

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segunda-feira, setembro 05, 2011

Um poema a cada segunda-feira (XLII)


Fui surpreendido, neste período com sabor a férias, pela publicação do último poeta desta antologia que Paulo Pires compilou e a Biblioteca Municipal de Silves editou.

Neste momento ainda não defini um critério de publicação que dê continuidade a esta rubrica, mas prometo fazê-lo a breve termo.

Não vos quero, no entanto, privar de um poema nesta segunda-feira.




  • 1964 - Um dia igual
Fascinam-me as meninas da praia-do-peixe.
Pela tarde fresca fazem o pino encostadas à muralha,
e pelos seus corpos escorre a fina areia
como numa ampulheta.
Os homens do mar embarcam nas chatas
e remam até desaparecerem no fim do dia.


Voltamos todas para a taberna.
Acendemos cigarros umas às outras
e bebemos juntas pelos lábios do mesmo copo.
As histórias são sempre as mesmas:
o amor e a gonorreia.
As escamas que não se despegam do dinheiro.
A tentação de subir ao segundo andar
sem a obrigação da carne encomendada e a preço razoável.
Apenas subir como se fossemos ao baile
com fogo de artifício e música impregnada de vaselina.


Fernando Esteves Pinto
O tempo que fala
Temas Originais, Lda., Coimbra, 2010

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