segunda-feira, maio 02, 2011

Um poema a cada segunda-feira (XXIV)



Até à vigésima edição desta rubrica, os autores aqui representados tinham uma relação próxima com o Algarve: os primeiros através do Movimento Poesia 61, os que se lhe seguiram porque naturais ou residentes nesta região. Sophia foi a exceção, mas todos sabemos da sua proximidade a estas terras do Sul.
Quando das comemorações do Dia Mundial da Poesia, Paulo Pires, Técnico Superior da Biblioteca Municipal de Silves, compilou uma antologia que intitulou POESIA 21, porque se refere a 21 poetas e ao dia 21 de Março.
São trabalhos desses 21 poetas, jovens que se vêm afirmando no nosso mundo literário, que aqui estou a incluir.

  • ODE LOUCA

    Todos os homens têm o seu rio.
    Lamentam-no sentados no interior das casas
    de interior e como o poeta que escreve a lápis
    apagam a memória com a sua água.
    Os rios abandonam os homens que envelhecem
    longe da infância, e eles choram
    o reflexo absurdo na distância.
    Por vezes, enlouquecem os rios, os homens,
    os poetas nas palavras repetidas
    que buscam uma ode que lhes diga
    a textura. Todos procuram o mesmo:
    um lugar de água mais limpa
    ou um espelho que não lhes negue
    a hipótese do reflexo.
    O rio sofre mais do que o homem,
    o poeta,
    porque dele se espera que nos devolva
    a imagem de tudo, menos de si próprio.
    Todos os rios têm o seu narciso,
    mas poucos, muito poucos,
    o simples reflexo das suas águas.

Filipa Leal
Talvez os Lírios Compreendam, Cadernos do Campo Alegre/8
Fundação Ciência e Desenvolvimento, Porto 2004
A Cidade Líquida e Outras Texturas
Deriva Editores, Porto 2006
O Problema de Ser Norte
Deriva Editores, Porto 2008
A Inexistência de Eva
Deriva Editores, Porto 2009
Poesia 21
Parceria Biblioteca Municipal de Silves / Escola Secundária de Silves

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1 comentário:

hfm disse...

Sempre as 2ªs a descoberto e a leitura que se tornou obrigatória.