segunda-feira, novembro 23, 2009

Pelo aniversário de ...


                                    ... Herberto Helder:



  • Nenhum corpo é como esse, mergulhador, coroado
    de puros volumes de água.
    Nenhuma busca tão funda, a tal pressão,
    como pesa na água uma ilha fria,
    a raiz de uma ilha.
    Uns procuram ramas de ouro.
    Outros, filões de púrpura unindo
    sono a sono. Há quem estenda os dedos para tocar
    as queimaduras no escuro. Há quem seja
    terrestre.
    Tu esbracejas entre sal agudo.
    Não falas, mal respiras, moves-te apenas
    e fulguras
    como uma estrela cheia de bolhas.
    Feroz, paciente, arremetido, mortal, centrífugo.
    Com todo o peso do coração no centro.
(poema dedicado ao pintor Cruzeiro Seixas)

Herberto Helder
FLASH, 1980
Ou o Poema Contínuo
Assírio & Alvim, Lisboa 2004

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