quinta-feira, junho 19, 2008

Nas margens da poesia (IV)

De regresso ao que interrompi, por motivos vários, acabei por me confrontar com uma situação algo delicada: um dos poetas que constam desta antologia inspirou-se em Silves na maioria dos poemas que escolheu e terei que ser eu a decidir, de entre eles, qual vos irei apresentar.
A tarefa não foi fácil, mas decidi-me.

  • Ode

    Num rosto de sílabas brancas te escrevo, templo de luz,
    útero de estrelas, semente de douradas neblinas.
    De fábulas e perfume é o teu nome,
    relógio onde a claridade pára e se incendeia,
    cristal que arde, na lonjura do tempo.

    Nos teus hortos, há jasmim e hortelã, silfos, sílfides,
    flautas de Pã, que recriam a flor cristalina,
    a herança taifa, na cal perfurada de raizes brancas.

    Na tua água deslizam palácios mouros, qasîdas brilhantes.
    Junto aos poços de ouro profundo repousam as garças.
    Nos teus jardins, princesas submersas, em jardins
    de outrora, envoltas em candelabros luminosos,
    níveos perfumes, tangem alaúdes, harpas,
    laranjais de mistério, nas sílabas embriagadas
    dos jardins da aurora.

    Num rosto de sílabas brancas, és chama de um deserto
    ardente.
    Ver-te, uma vez só, é aspirar à glória de 'Itimad
    e ser nuvem, sol, centáurea azul,
    água e murmúrio, ressonância de frutos, aves,
    rumor deleitoso, nascente de algas, citrinos,
    flanco de luz, cintura morena.


Maria do Sameiro Barroso
Nas margens da poesia
Câmara Municipal de Silves, 2008

1 comentário:

Anthony disse...

Gracias otro ves!! !Muy interesante!

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