quarta-feira, agosto 30, 2006

Preciso de algo que me alegre

Janela para o quintal, Julho 2006, © António Baeta Oliveira


Silves vive uma situação preocupante com denúncias de corrupção na Câmara, com construções de campos de golfe em plena Reserva Agrícola Nacional sem que constem do Plano Director, com obras terminadas há um ano e que ainda não se disponibilizaram à população (o Teatro Mascarenhas Gregório, o Centro de Estudos Luso-Árabes), obras que tardam a concluir, como a Bibilioteca Municipal, as que embora terminadas ainda não funcionam, como o Arquivo Municipal, e até as que funcionam mas parecem não ter terminado, como o parque de estacionamento sobre o rio.
Seria fastidioso enumerar todas as obras a que se dá início e que param em seguida, gerando um caos urbanístico que fustiga a paciência dos moradores. Permitam-me que me refira a um caso gritante, o do arranjo da zona ribeirinha, sobre a avenida. Fez-se deslocar a praça de táxis e a paragem de autocarros, com uma pressa inusitada em começar, para logo parar, privando os cidadãos do saudável contacto com o seu rio, além de conferir à zona ribeirinha uma imagem de "cidade sitiada ou bombardeada", algo desconsoladora, já lá vão mais de seis meses.
Na rua 25 de Abril foi fácil atribuir a culpa da demora aos trabalhos arqueológicos. De quem será a responsabilidade da demora nas obras da avenida junto ao rio?
Que se façam as obras, mas que as programem para não interferir na vida do dia-a-dia dos cidadãos por períodos tão prolongados como os que aqui sucedem, por dois anos ou mais, a acarretar significativos prejuízos para hoteleiros e demais comerciantes

Não com a finalidade de esquecer, antes a de lembrar, fiz por amenizar esta tensão, reunindo uma série de fotos sobre o tema genérico de Silves e suas flores, a que pode aceder clicando na foto acima. Aconselho o uso do botão view as slideshow e, em seguida, o seu accionamento (clicando na seta) logo que aviste a primeira foto.

segunda-feira, agosto 28, 2006

Uma aldeia sobre o Tâmega

Feira Nova, Marco de Canaveses, Agosto 2005, © António Baeta Oliveira

Este ano não cumpri a tradição de subir até à terra do meu pai; fê-lo o meu irmão.

Levantou-se cedo pela manhã, certamente, pois o sms que me enviou dizia assim:


    "O Tâmega passa lá ao fundo. Da janela do meu quarto não o avisto, mas a névoa denuncia-lhe o trajecto."

Cerca de uma hora depois insistiu com novo sms:

    "Em altos berros ouve-se uma desgarrada brejeira em ritmo de chula. É a carrinha do peixe que se aproxima, agora já com câmara frigorífica e balança electrónica."


Mudam-se os tempos e até as vontades, mas a geografia e as mentalidades demoram, apesar das mudanças.

quinta-feira, agosto 24, 2006

Homenagem em atraso


  Alexandre O'Neill


Vinte anos passaram sobre o dia 21 de Agosto de 1986, quando Alexandre O'Neill faleceu.
Era de nós, portugueses, que falava, mesmo quando falava de si.
A minha intenção é lembrá-lo, através de um extracto deste seu poema:

  • Um Adeus Português

    (...)

    Não podias ficar presa comigo
    à pequena dor que cada um de nós
    traz docemente pela mão
    a esta pequena dor à portuguesa
    tão mansa quase vegetal

    Não tu não mereces esta cidade não mereces
    esta roda de náusea em que giramos
    até à idiotia
    esta pequena morte
    e o seu minucioso e porco ritual
    esta nossa razão absurda de ser

    Não tu és da cidade aventureira
    da cidade onde o amor encontra as suas ruas
    e o cemitério ardente
    da sua morte
    tu és da cidade onde vives por um fio
    de puro acaso
    onde morres ou vives não de asfixia
    mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
    sem a moeda falsa do bem e do mal

    Nesta curva tão terna e lancinante
    que vai ser que já é o teu desaparecimento
    digo-te adeus
    e como um adolescente
    tropeço de ternura
    por ti.

Alexandre O'Neill
Quinze Poetas Portugueses do Século XX
Selecção e Prefácio de Gastão Cruz
Assírio & Alvim, 2004

quarta-feira, agosto 23, 2006

A "verdade" tem várias faces

Rui Curado Silva, na sua Klepsýdra, divulgou um ensaio de Bernard-Henri Lévy, publicado no New York Times (ensaio), a que se segue a resposta do famoso filósofo às questões que lhe foram colocadas por uma série de jornalistas - aqui.
Rui Curado Silva chama ainda a atenção para o completo alheamento da nossa imprensa, na sequência desta publicação, face a um texto importante para a compreensão dos diversos interesses que se degladiam no Médio Oriente.

Os factos merecem várias interpretações e o conhecimento é feito a partir delas; não nos podemos alhear.

terça-feira, agosto 22, 2006

Afinal o que importa...

Porque afinal o que importa é ser Verão e estar de férias, deixo-vos com o mais surrealista dos nossos poetas:

  • PASTELARIA

    Afinal o que importa não é a literatura
    nem a crítica de arte nem a câmara escura

    Afinal o que importa não é bem o negócio
    nem o ter dinheiro ao lado nem horas de ócio

    Afinal o que importa não é ser novo e galante
    - ele há tanta maneira de compor uma estante!

    Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
    e cair verticalmente no vício

    Não é verdade, rapaz? E amanhã há bola
    antes de haver cinema madama blanche e parola

    Que afinal o que importa não é haver gente com fome
    porque assim como assim ainda há muita gente que come

    Que afinal o que importa é não ter medo
    de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
    Gerente: Este leite está azedo!

    Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
    à saída da pastelaria, e lá fora - ah, lá fora! - rir de tudo

    No riso admirável de quem sabe e gosta
    ter lavados e muitos dentes brancos à mostra

Mário Cesariny
Quinze Poetas Portugueses do Século XX
Edição e Prefácio de Gastão Cruz
Assírio & Alvim

sexta-feira, agosto 18, 2006

LORCA - 70 anos depois do seu assassinato


(Clique aqui para saber mais sobre Lorca)


Amanhã, 19 de Agosto, passarão 70 anos sobre a data em que Lorca encontrou a morte no embate de uma sociedade em mudança.

  • La cogida y la muerte

    A las cinco de la tarde.
    Eran las cinco en punto de la tarde.
    Un niño trajo la blanca sábana
    a las cinco de la tarde.
    Una espuerta de cal ya prevenida
    a las cinco de la tarde.
    Lo demás era muerte y sólo muerte
    a las cinco de la tarde.

    El viento se llevó los algodones
    a las cinco de la tarde.
    Y el óxido sembró cristal y níquel
    a las cinco de la tarde.
    Ya luchan la paloma y el leopardo
    a las cinco de la tarde.
    Y un muslo con un asta desolada
    a las cinco de la tarde.
    Comenzaron los sones del bordón
    a las cinco de la tarde.
    Las campanas de arsénico y el humo
    a las cinco de la tarde.
    En las esquinas grupos de silencio
    a las cinco de la tarde.
    ¡Y el toro, solo corazón arriba!
    a las cinco de la tarde.
    Cuando el sudor de nieve fue llegando
    a las cinco de la tarde,
    cuando la plaza se cubrió de yodo
    a las cinco de la tarde,
    la muerte puso huevos en la herida
    a las cinco de la tarde.
    A las cinco de la tarde.
    A las cinco en punto de la tarde.

    Un ataúd con ruedas es su cama
    a las cinco de la tarde.
    Huesos y flautas suenan en su oído
    a las cinco de la tarde.
    El toro ya mugía por su frente
    a las cinco de la tarde.
    El cuarto se irisaba de agonía
    a las cinco de la tarde.
    A lo lejos ya viene la gangrena
    a las cinco de la tarde.
    Trompa de lirio por las verdes ingles
    a las cinco de la tarde.
    Las heridas quemaban como soles
    a las cinco de la tarde,
    y el gentío rompía las ventanas
    a las cinco de la tarde.
    A las cinco de la tarde.
    ¡Ay qué terribles cinco de la tarde!
    ¡Eran las cinco en todos los relojes!
    ¡Eran las cinco en sombras de la tarde!

Federico García Lorca
La Cogida y la Muerte,
em Llanto por Ignacio Sánchez Mejías

quarta-feira, agosto 16, 2006

A Feira Medieval de Silves

Feira Medieval, Agosto 2006, © António Baeta Oliveira


Terminou a 3ª edição desta Feira, que começou quinhentista, passou a medieval (sécs. XIII e XIV) e que este ano usou uma datação que a fez recuar até ao séc. XII.

Tudo o que me agrada na Feira e tudo o que gostaria de ver melhorar já aqui foi dito em
          A Feira Quinhentista
e em
          A Feira Medieval passou por aqui.

Quero insistir, no entanto, lembrando que estas simulações de recreação histórica que se não baseiam em episódios da história local e continuam a recear a utilização do período mais brilhante da época medieval, o período muçulmano, fazem desta Feira um mero divertimento, que a médio ou longo termo prejudicará a verdadeira imagem histórica desta cidade, vulgarizando-a, pela semelhança com todas as outras feiras do mesmo teor que se realizam, cada vez mais, de Norte a Sul de Portugal, sem falar da vizinha Espanha.

Não se queira medir o "sucesso" pelo número de visitantes, que em última análise prejudica a qualidade dos serviços prestados e a própria fruição das propostas de animação que são dirigidas a quem nos visita.

A FEIRA pode e deve ser melhorada, visando a defesa e a divulgação da identidade local e a melhoria da oferta turística, servindo a economia, a história, a cultura e o lazer.

Veja agora, através destas Fotos da Feira Medieval, como é interessante esta iniciativa local, da responsabilidade da autarquia.

NOTAS:
1. Para ver as fotos, aconselho que carregue no botão "View Slideshow", no lado direito da página que contém as miniaturas e accione essa função nos botões que encontrará sobre a primeira fotografia.
2. O site da VIVARTE, associação reponsável pela recreação histórica da Feira Medieval de Silves, abriu um link para este local, "...por vez de outros relatos de outra imprensa", como referem. O meu obrigado.

segunda-feira, agosto 14, 2006

Cortejo Medieval, em Silves


(Clique na imagem e use o menor tamanho para melhor definição)


Dispõe ainda de hoje e amanhã para visitar Silves e envolver-se no cenário medieval da sua medina, onde circulam em permanente animação os figurantes que pode ver desfilar no cortejo da simulação de vídeo acima (a que pode aceder clicando na imagem), visitar os mercados e as tabernas e até envergar um dos trajes que a Feira tem à sua disposição gratuitamente.
Tente integrar-se e viver este regresso ao passado.

quarta-feira, agosto 09, 2006

Silves Medieval

Li, há cerca de um mês atrás, de Alberto Xavier, o romance Al-Gharb 1146, editado pela Bertrand. Não apreciei particularmente.

Em vésperas de uma longa Feira Medieval, a estender-se de 10 a 15 deste mês, resolvi trazer-vos um pequeno excerto de um dos textos desse romance, em que Silves aparece referida em contexto medieval.
Imagem do cartaz promocional do evento, © Câmara Municipal de Silves


  • (...) dirigimo-nos para nascente, onde, já fora das muralhas da medina, ficava a judiaria. Cavalgando um pouco mais, deixando para trás o intrincado das ruas estreitas do bairro judeu e a sua branca sinagoga, chegamos a casa de Ben e Judite, uma construção (na mesma) em1 pedra ruiva, o grés, de linhas sóbrias e elegantes, rodeada de jardins e pomares. De características vincadamente andaluzas, a casa tinha, porém, uma particularidade arquitectónica: um amplo terraço sobranceiro ao rio, suportado por colunas com capitéis tipicamente árabes, em que as volutas das clássicas folhas de acanto eram substituídas por um reticulado complexo e abstracto.
    Entramos para o grande pátio central de onde se acede aos salões e, por um portão de ferro forjado, aos jardins. A toda a volta do pátio, os lambris são revestidos de azulejos de cores exuberantes, assim como os bancos de alvenaria dispostos a espaços regulares, intercalados por grandes talhas de barro e potes de vidrado policromo transbordantes de cachos de gerânios vermelhos e brancos; no centro, dois leões de mármore jorram das bocas escancaradas repuxos de água rumorejante para um tanque rectangular. (...)

    Avisadamente, Ben enviara um mensageiro dias antes, de modo que os criados tudo tinham a postos para receber os seus senhores e os ilustres convidados. O jantar foi-nos servido no terraço, ao fim da tarde, enquanto o Sol descia para os lados do mar, distante umas dezenas de quilómetros. Excelente o borrego bem temperado e assado no forno, acompanhado de beringelas recheadas, excelentes os doces de amêndoa típicos de Silves que fizeram as delícias de todos, em especial da nossa querida Ordoña.
    O silêncio caía entre nós, talvez tomados pelo cansaço da viagem e pelas emoções do dia (..), talvez pela beleza serena daquele lugar privilegiado onde nos encontrávamos, já fora do burburinho da cidade fervilhante de vida e animação, da azáfama do porto e dos estaleiros navais, mas não tão longe que não pudéssemos usufruir da sua vista.
    E o recorte de Silves ao lusco-fusco era deveras imponente com a sua dupla cintura de muralhas e as onze torres de planta rectangular, ainda as duas torres albarrãs ligadas às muralhas por arcos de volta perfeita. No alto do cerro, sobrepondo-se a toda a malha urbana, o famoso Axarajibe - o Palácio das Varandas! (...)


1. No texto original está escrito "na mesma", porque há uma referência anterior ao grés, a pedra ruiva de Silves. Substituí aquelas duas palavras por "em", neste contexto de uma transcrição parcial.

segunda-feira, agosto 07, 2006

Uma nota de paz sem moralismos pacifistas

Waidi Muawad, dramaturgo de origem libanesa, a propósito dos mais recentes conflitos no Médio Oriente:



  • (...) Não tenho posição, não tenho partido, estou apenas devastado, porque pertenço, de corpo inteiro, a esta violência. Olho para a terra do meu pai e da minha mãe e vejo-me a mim: podia matar e podia estar dos dois lados, dos seis lados, dos 20 lados. Podia invadir e aterrorizar. Podia defender-me e podia resistir e, para cúmulo, se fosse de um ou do outro, saberia justificar cada um dos meus actos e justificar a injustiça que me habita, saberia encontrar as palavras, para dizer como me massacram, como me roubam toda a possibilidade de viver. (...)

in Courrier Internacional, edição nº 70.

quinta-feira, agosto 03, 2006

O "paraíso", entre o mar e a serra

Algures nas imediações de Odeceixe, Julho 2006, © António Baeta Oliveira
(Clique na foto)


Algures perto do mar, do rio e da serra; entre o sono e o sonho.
Basta clicar na fotografia, escolher o menor tamanho para melhor definição e percorrer alguns recantos da Costa Vicentina, a costa ocidental do Algarve, na zona de Odeceixe, concelho de Aljezur.
Ah! E ligue o som... ou dispense-o.

P.S.
Trata-se de uma simulação de vídeo, a partir de um conjunto de fotografias que bati na semana passada, utilizando o programa Photo Story, da Microsoft.