segunda-feira, abril 24, 2006

Memórias que guardo, na ausência

Largo do Município, Silves, Abril 2006, © António Baeta Oliveira

Está aí, efervescente, o anúncio da proximidade do mês de Maio, o mês das flores, que torna ainda mais bela a minha cidade.

É esta imagem de Silves que quero guardar, agora que me ausento por algum tempo, por Londres, e logo a seguir, por Sevilha.

Silves em Abril, 2006, © António Baeta Oliveira Silves em Abril, 2006, © António Baeta Oliveira Silves em Abril, 2006, © António Baeta Oliveira

Faço votos para que o "aroma" a que se refere o post anterior não prejudique a fruição de tão aprazíveis lugares.
Lembro-me de que o ano passado, por esta altura, me lamentava por não possuir tecnologia que me permitisse reter, para o divulgar, o cheiro das flores, nomeadamente o da flor das laranjeiras, que por esta época empresta à minha terra um particular enlevo. Sabem que me arrependi de o ter feito? Nessa mesma noite, uma vaga que não se vê, não se tacteia, não se ouve, só se sente no olfacto, como uma praga, invadiu a zona da beira rio e espalhou-se lentamente pela cidade, invadindo as casas e os lugares de Silves.
É urgente afastá-la de vez. Denunciá-la em voz alta.

Se aqui voltardes, na minha ausência, convido-vos a visitar os meus arquivos de Maio de 2005 ou até os de Maio de 2004. Percorram-nos, lentamente, do fundo para cima, para respeitar a ordem cronológica. E deixem-me sinais. Talvez vos possa ler num dos cybercafés das cidades por onde andarei.
Até breve!

25 de Abril
Passados trinta e dois anos sobre o 25 de Abril, é em sintonia com o sentir do meu amigo e poeta Torquato da Luz que eu sinto o meu País. (é só clicar)

quinta-feira, abril 20, 2006

O Ambiente, em Silves

A Câmara Municipal de Silves está a promover um concurso de fotografia temática, que dividiu em quatro etapas, cada uma com o seu tema, e que se prolongará até ao próximo mês de Junho.
Na 1ª etapa, dedicada ao Ambiente, muni-me do meu equipamento fotográfico e parti em busca do ambiente que se vive no concelho. Nem todas as fotografias que bati foram pensadas para efeitos de concurso, como a que se segue.
Silves Poente, Abril 2006, © António Baeta Oliveira
É porque é agradável avistar assim, ao longe, a cidade, junto a este curso de água, no momento da fotografia alimentado pela enchente da maré, mas que na vazante irá desaguar no rio a poucos metros deste local.
Para aqui chegar, tive que percorrer um caminho que se destaca da EN 124, junto ao Falacho, núcleo habitacional cuja população sofre, há longo tempo, pelo menos há mais de 17 anos, quase que ininterruptamente, de uma degradação acentuada do nível da sua qualidade de vida, dificilmente equiparado a qualquer outro local do concelho de Silves. Ali se ergue uma estação de tratamento de esgotos que nunca, ou quase nunca, funcionou devidamente, apesar de diversas intervenções técnicas. A situação tornou-se tão vulgar que a população, diminuta, parece já ter-se habituado, depois de tanto protesto, com promessas de solução que nunca foram satisfeitas, até à elaboração de volumosos dossiers, dirigidos às mais diversas entidades, na grande maioria dos casos sem sequer merecer uma simples confirmação da recepção.
Brada aos céus!
O cheiro que emana da estação de tratamento é de tal ordem que um amigo que me acompanhava foi acometido de náuseas, ao ponto de quase vomitar se não se tivesse afastado.
Este cheiro atinge a cidade, em horas de maré-cheia, conduzido pelo rio e invadindo-a através das sarjetas, tornando-se particularmente nauseabundo quando, no Verão, o calor aperta.
Em Portimão, um teatro de revista, pelo Carnaval, intitulava-se, a propósito, «Pfuu, dieb! Cagarem-se?» ou algo semelhante. Nessa cidade não sei que desculpa fornece o senhor presidente da Câmara, mas aqui, em Silves, já tenho lido em jornais, a senhora presidente da Câmara desculpar-se com a fábrica da laranja, que sempre gera empregos na cidade.
Temos mesmo muito brandos costumes. Nem partidos, nem iniciativa privada, nem fiscalização oficial, talvez alguns protestos desgarrados, algumas mãos segurando o nariz em hora de maior pressão e pouco mais.
Pois o tal curso de água, bucólico, gracioso, correndo devagar para o rio, na vazante, tem esta história fotográfica sequencial.

© António Baeta Oliveira

Chega límpido, transparente, até junto à saída de um cano, com um caudal assustador, que provém da estação de tratamento, e então, repleto de espuma, água suja, poluída e poluente, a cheirar terrivelmente mal, corre até atingir o rio, para Silves ou para Portimão, conforme a maré, a que se vão juntando os detritos das suiniculturas e tudo o mais que por aí existir.
A agressão a que está sujeita a população do Falacho, porque é de pessoas que se trata, deita por terra qualquer outra iniciativa ambiental que, eventualmente, pudesse merecer algum elogio.
Até quando!?

P.S.
Também ontem, um outro blog de Silves, o Saco dos Desabafos, se referia a questões ambientais, se bem que sobre matéria mais sólida; o lixo urbano nos contentores, a deitar fora, aguardando a melhor hora para ser avaliado - a passagem da procissão da Páscoa.

terça-feira, abril 18, 2006

De novo, sobre o Massacre de Lisboa


© Hebrew Union College, cedido por Nuno Guerreiro, de Rua da Judiaria
  • A 19 de Abril, passarão 500 anos (1506-2006) sobre a data em que Lisboa viveu um terrível e bárbaro acontecimento, que se prolongou por mais dois dias, e onde foram queimadas vivas milhares de pessoas (homens, mulheres e crianças), lançadas à fogueira por uma multidão em fúria. Fúria alimentada pelo preconceito, pela ignorância, pela intolerância religiosa, instigada por oportunismos políticos, religiosos e económicos que culminaram na expulsão dos judeus e mouros e, mais tarde, na Inquisição.

Assim escrevia eu, em 17 de Março de 2006, a propósito do Massacre de Lisboa.
É hora de voltar a lembrar e chamar a atenção para o apelo de Nuno Guerreiro, em Rua da Judiaria, e para os textos que vem publicando: de Salomão Ibn Verger, Garcia de Resende, Samuel Usque, Damião de Góis, Alexandre Herculano e Camilo Castelo Branco.
O anti-semitismo, ainda hoje, em pleno século XXI, suscita ódios e incompreensões, como os que recaíram sobre Nuno Guerreiro na sequência deste seu apelo. É importante lembrar e debater estas situações, pois estes ódios e incompreensões são normalmente gerados pelo preconceito e pela ignorância, muitas vezes no seio de populações que nunca conheceram ou tiveram contacto com qualquer judeu.

quinta-feira, abril 13, 2006

Agnus Dei

Achei que o tema se adequa à "Semana Santa" e que, apesar de se tratar de um requiem, pela sua solenidade, não perturba a glória da "Ressurreição".

  • Mozart
    Requiem
    Agnus Dei
    Berliner Philharmoniker

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quarta-feira, abril 12, 2006

Cada palavra

O Fernando Gregório, de Portimão, poeta e amigo com quem me cruzo no que, por vezes, vai sucedendo na cultura que aqui se faz ou que por aqui passa de visita, costuma oferecer-me poemas. E eu gosto de ser assim presenteado.
Com a sua expressa autorização apresento-vos este seu inédito.

  • Cada palavra

    Cada palavra pertence à dureza da pedra
    No entanto o sangue sempre a tinge.

    E quando as horas correm como a água
    Sentimo-nos reféns daquilo que dizemos.

    Dá-me pois um arco e uma flecha rápida
    Para que possa atingir a maçã dourada.

    Para que possa em silêncio provar finalmente
    Um céu anterior ou posterior às palavras.

    Dá-me uma espada que dilacere as sombras
    Que anoitecem os idiomas alterando os seus sentidos.

    Dá-me agora a limpidez de cada palavra
    Antes que tudo se possa explicar pelo silêncio.

Fernando Gregório
Abril de 2006

segunda-feira, abril 10, 2006

Um teatro próximo de si

O CAPa (Centro de Artes Performativas do Algarve), em Faro, tem sido o local que me tem proporcionado o teatro que mais me interessa cultivar, sem esquecer a dança, que hoje não vem ao caso.
Na passada sexta-feira, foi no CAPa que assisti a Ácido, pelo Teatro da Garagem.
Esta companhia, a cujos trabalhos já assisti umas cinco ou seis vezes, é uma das minhas preferidas. As razões que poderia apresentar para este meu apreço estão praticamente todas contidas em Ácido. Um óptimo texto, habitualmente reflectindo sobre o que se vai passando à nossa volta, com forte pendor poético, apresentado numa cenografia simples na forma e materiais utilizados, mas complexa e densa na simbologia associada, servido por uma encenação de rigor e elevado grau de desempenho. Carlos Pessoa é o nome que sempre surge como assinatura da dramaturgia, encenação e cenografia, que eu projecto na voz, na expressividade, na interpretação de Miguel Mendes, que é, para mim, o rosto da companhia, embora conheça e vá conhecendo todos os outros rostos que no palco se nos mostram. Não conheço, mas reconheço os outros, os que não nos surgem no palco, mas que, conjuntamente, na música, na luz, no som, nos figurinos, na produção, enfim, me vêm habituando a um trabalho, que só lastimo pelo que tem de efémero, sem que eu perca a ilusão de um dia o poder agarrar e levar comigo, para o mostrar a todos os que não tiveram ou não souberam aproveitar esta minha oportunidade.

Ácido debruça-se sobre a migração. A rede, uma larga e vasta rede, como uma rede de pesca, como uma teia, da aranha que aguarda a sua vítima, é o elemento mais presente da cenografia e vai apanhando e consumindo no seu emaranhado os que nela caem, abandonados ao sabor da sorte numa carrinha que os deixa para lá da fronteira de Espanha, de França, ou da Alemanha, ou como sardinha enlatada, em contentores, tentando atravessar o Canal da Mancha em condições de absoluto desespero e degradação, comentados por um apresentador que fala para um fémur, aparentemente preocupado com o que se passa à sua volta, realçando as situações mais horríveis, enquanto pede que lhe filmem os sapatos ou o sobretudo, último modelo. A teia existe ainda na dona de casa, presa nas preocupações com a sua aparência, e na humilhada imigrante do Leste Europeu que se sujeita a todos os afazeres domésticos que a patroa impõe, tentando sobreviver à hecatombe que destruiu a sua sociedade. Na teia está preso o polícia da imigração, que nem precisa de ouvir as respostas para as suas perguntas, pois está possesso, de desespero, pelo que não consegue entender e cuja culpa faz recair sobre quem se lhe apresenta, o imigrante que se debate, enleado, entre a necessidade do visto e da legalização e a sua dignidade de ser humano consciente.

Em Ácido estamos bem longe do teatro perfumado, de recreação ou de pretensão, que se justifica na justificação desta sociedade. Em Ácido, estamos perante o absurdo desta sociedade sem justificação.

Nunca perca, um teatro próximo de si.

P.S.
Já aqui antes havia escrito sobre outro trabalho do Teatro da Garagem. É curioso como repito algumas afirmações. Ainda me acusam de plágio. ;-) Veja em A Vida Continua.

sexta-feira, abril 07, 2006

Em jeito de fim-de-semana

Janela, Abril 2006, © António Baeta Oliveira
  • (...)
    A janela do quarto onde dormirei deita para o campo aberto, para um campo indefinido, que é todos os campos, para a grande noite vagamente constelada onde uma aragem que não se ouve se sente. Sentado à janela, contemplo com os sentidos esta coisa nenhuma da vida universal que está lá fora. A hora harmoniza-se numa sensação inquieta, desde a invisibilidade visível de tudo até à madeira vagamente rugosa de ter estalado a tinta velha do parapeito branquejante, onde está estendidamente apoiada de lado a minha mão esquerda.

    Quantas vezes, contudo, não anseio visualmente por esta paz de onde quase fugiria agora, se fosse fácil ou decente! Quantas vezes julgo crer - lá em baixo, entre as ruas estreitas de casas altas - que a paz, a prosa, o definitivo estariam antes aqui, entre as coisas naturais, que ali onde o pano de mesa da civilização faz esquecer o pinho já pintado em que assenta! E, agora, aqui, sentindo-me saudável, cansado a bem, estou intranquilo, estou preso, estou saudoso.

    Não sei se é a mim que acontece, se a todos os que a civilização fez nascer outra vez. Mas parece-me que para mim, ou para os que sentem como eu, o artificial passou a ser o natural, e é o natural que é estranho. Não digo bem: o artificial não passou a ser o natural; o natural passou a ser diferente. (...)

Bernardo Soares
Fernando Pessoa
Livro do Desassossego
Assírio & Alvim, Lisboa 2005

quinta-feira, abril 06, 2006

Em busca do al-Ândalus

Janela sobre os telhados, Xauen, Marrocos, Agosto 2004, © António Baeta Oliveira

Foi com a Fundação al-Idrisi que, no Verão de 2004, me desloquei a Xauen, em Marrocos, para um curso de introdução à língua e civilização árabes, de cuja viagem aqui deixei fotos e apontamentos que se devem ler, como num blog, do fundo da página para cima.

A minha curiosidade pelo al-Ândalus e os laços que me ligam à Fundação al-Idrisi, levar-me-ão de novo a um Encontro Internacional a decorrer em Umbrete - Sevilha, sob o título genérico de Alquerías y Pueblos del Aljarafe, sobre história, arqueologia, arquitectura e meio ambiente.

O Encontro está dividido em duas propostas distintas, mas sequenciais:
          - de 5 a 7 de Maio, sobre a história do vinho e das adegas, que inclui, numa homenagem ao poeta e último rei de Sevilha, al-Mu'tamid, uma visita guiada a Silves e um espectáculo de música e dança. Consulte o Programa .
          - de 8 a 10 de Maio, com a colaboração do Club UNESCO, de Sevilha, sob o título Arquitectura de paz en el Mediterraneo, com visitas guiadas a Sevilha e Córdova. Consulte o Programa.
Há descontos especiais para estudantes e créditos concedidos pela Universidade de Sevilha.

Se consegui despertar o vosso interesse e surgirem interessados, é possível obter informações mais detalhadas, dirigindo-se-me através do meu email, no cabeçalho do blog, ou mesmo aqui. Eu encaminhar-vos-ei nesse sentido.

quarta-feira, abril 05, 2006

Arade ao longe

Arade a caminho de Portimão, Abril 2006, © António Baeta Oliveira

Rios de dinheiro têm corrido em nome da requalificação do Arade sem que o rio beneficiasse de qualquer intervenção.
Eles são projectos encomendados a peso de ouro, que se remetem para as gavetas do esquecimento com a mudança de cor política. Eles são novos projectos, de novo a peso de ouro, solicitados à mesma empresa do projecto anterior, que não se importa, mesmo nada, de refazer o projecto, limitando-se a apresentar quase idêntico plano, se bem que com o devido ajuste nos custos, devido à inflação. Elas são candidaturas a fundos europeus, que usam a Bacia do Arade como a base estrutural em que se apoiam os projectos, deixando o rio a ver navios.
O Plano de Requalificação do Arade envolve um investimento global, público e privado, na ordem dos 50 mil milhões de euros. Os projectos aprovados, numa primeira fase, atingiram um montante que se aproxima dos 20 mil milhões de euros e estão na calha mais 15 mil milhões de euros, ainda no âmbito do III Quadro Comunitário de Apoio, até 2006.
Verifique como foram aplicados, pois é o próprio Boletim Informativo da CCDRAlgarve que nos elucida. Confira em Informal (nº2).
Entretanto, o rio não beneficiou ainda de nenhuma requalificação que permita a sua navegabilidade até Silves e aproxima-se o IV Quadro, com um assinalável corte orçamental em relação ao Algarve, que a imprensa vem referindo como da ordem dos 75%.
Veja o que o mesmo Informal (nº8) diz, quatro anos depois, em Janeiro de 2005.

E o Arade a ver navios.

A sua requalificação serve de apoio a requalificações à sua volta, mas o Arade, estrutura de base, mantém-se assoreado, poluído e navegável em horas que só a maré comanda. Isto é como levar o carro à frente dos bois, só que neste caso os bois vêm tão longe que ainda não se avistam.

Por tudo isto, como diz o Helder Raimundo, em Contrasenso:
"153 assinaturas! É pouco, muito pouco para um rio que fez tanto por nós! Assine aqui" (não esqueça de, em vez de País/Cidade, escrever BI, data e arquivo).

Pode ainda tomar a iniciativa de recolher assinaturas em papel; carregue aqui o ficheiro Desassoreamento.doc e remeta, com qualquer número de assinaturas, para:
          Manuel Ramos
          Casa da Cisterna
          Torre e Cercas
          8300 Silves
Divulgue a existência desta petição ao Governo, Presidência da República, Assembleia da República, CCDRAlgarve, IPTM .
O Arade é de todos e agradece.

segunda-feira, abril 03, 2006

Não há paredes brancas

Parede branca, Abril 2006, © António Baeta Oliveira

Não há paredes brancas.
Nelas está latente a avidez da luz, a inquietação de um qualquer reflexo, a aceitação da palavra ou do graffiti.
Confirme, em Paredes brancas; um novo lugar na blogosfera algarvia.